INÊS LEAL



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©2024

CORPO EM VERTIGEM
Texto de JJ Marques
na ocasião da exposição ‘Sedução do corpo com as Coisas’

10.03.2022


Do corpo — percetivo / performativo / operativo

A Sedução do Corpo com as Coisas — leva-nos a refletir sobre oposições, nomeadamente, entre arte abstrata e arte figurativa, entre visualidade e visibilidade do trabalho do corpo, entre expressão puramente gestual e intenção documental. E tudo isto, através de um trabalho narrativo que resulta numa elaboração (final) que não é figurativa, maseventualmente documental.
O efeito do trabalho do corpo revela-se num jogo de distâncias apurado no modo como este se inscreve — como presença ou co-presença — nos diversos cenários e suportes de atuação.  
É uma construção continua, a partir do corpo, e que requer conexão, com o que se está a passar. O processo é cúmplice e toma parte de uma ideia de corpo propriocetivo, na perceção ou na sensação, na atitude do próprio corpo e das suas partes, para sentir mais. A propriocepção abre campos operativos que permitem reavaliar constantemente o que se vai produzindo na exploração direta dos sentidos.

Da matéria — dobrar com o corpo – aquecer com as mãos

Os desenhos (sobre papel), as chapas de ferro ou a parafina, tornam-se um segundo corpo, um mediador na experiência. Não é estranha a relação com a performance, com a coregrafia — uma espécie de dramaturgias do corpo — onde a ação, ou as ações, se tornam a própria representação. Tal como em Trisha Brown, a ação torna-se a sua própria representação. Extrapolando a partir dos desenhos realizados com os pés, Trisha Brown mostra-nos que poderia usar todo o corpo para se retratar e deixá-lo transparecer. É deste corpo a que Inês Leal se parece referir para entender a condicionalidade entre os objetos, as imagens ou os desenhos, e as ações que os produziram. Particularmente as ações que envolveram algum esforço para os fazer, como na série Aço. Mas também outras ações que reclamam do corpo um modo mais doce e delicado, como na série, Incorpórea (ferro e parafina), cujos objetos precisam do calor (das mãos) e do toque para adquirirem forma.


Da forma — os limites e a capacidade de se expandir

O corpo empresta á matéria uma geografia física, um desenho, um limite. A partir daqui é tudo deixado em aberto. E esta possibilidade, multiplica os sentidos dos acontecimentos. Uma condição generativa entre ação e matéria que garante a sua própria possibilidade, enquanto forma (final) ou enquanto possibilidade de configuração das coisas.
Alguns dos desenhos exploram, na perceção e no registo do movimento, a possibilidade de se expandir. Outros, na tentativa de registo do movimento na ação, lembrando Live Transmission: performative drawing de Morgan O’Hara, ou os desenhos em redor do corpo de Juliet McDonald. Né Barros sintetiza de algum modo esta dinâmica, entre a ideia de limite e a capacidade de expansão, na expressão — forma formante e formada — no seu livro a Materialidade da dança (2010), e que o gesto sintetiza.


Do gesto — desenho em tempo real

O gesto é uma disposição expressiva da ação do corpo que revela a relação entre a ação representada e a ação que surge do mesmo ato da representação.  A ação que faz a coisa feita, na linguagem de Gomez Molina. O gesto está inserido dentro de uma ação, articula elementos que podem estar relacionados e torna visível um meio de registar os movimentos do corpo. O gesto é a apresentação de uma medialidade, colocar visível um meio como tal. É o que parece procura-se na série de desenhos — Translation of ‘Transverse Orientation, (15) 25 x 41 cm, Grafite sobre papel e Centro 01 (3) 53 x 34 cm, grafite sobre papel— são desenhos que especulam sobre o limite da representação da forma. Exploram o movimento do corpo. O que está sob observação concretiza-se no papel à medida que o papel recebe a matéria da imagem. Nestes desenhos, os elementos gestuais, constituem uma sequência temporal, do que acontece, quando acontece.


Do tempo — desenho performativo

Todo o desenhar se tornará desenho, essa é a contingência de o fazer. (Manuel Zimbro, 2010)

Mas os desenhos podem assumir, também, uma extensão do que se está a fazer. Podem assumir uma certa intenção documental. Como uma imagem fantasmagórica do (seu) corpo, dos (seus) movimentos e das suas ações — cara a cara — nos desenhos, relacionando o desenho (real) em tempo real. A série — Jornal como registo do tempo, suporte do tempo, registado pelo volume do tempo (29,7x42 cm impressão sobre papel) — testemunha essa extensão. Um fluxo de uma matéria, negra, que vai ocupando o espaço, delimitado por cada folha de papel, construindo uma imagem paradoxalmente vazia. Mas esses desenhos, essas imagens são, ainda assim, compostas de marcas do que resta — do movimento e das ações — do tempo vivido. Existe nestes registos uma certa ideia de preenchimento continuo de um espaço, visível como foto-performance, em impressões estáticas.
BODY IN VERTIGO
Text by JJ Marques
on the occasion of the exhibition ‘The Dance of Things’
10.03.2022


Of the body - perceptive/performative / operative

The Dance of Things - leads us to reflect on oppositions, namely between abstract art and figurative art, between visuality and visibility of the body's work, and between purely gestural expression and documentary intent. And all this through a narrative work that results in a (final) elaboration that is not figurative, but eventually documentary. The effect of the body's work is revealed in a play of distances refined in the way it is inscribed - as a presence or co-presence - in the various scenarios and performance supports.   It's a continuous construction, starting with the body, which requires a connection with what's going on. The process is complicit and takes part in an idea of a proprioceptive body, in perception or sensation, in the attitude of one's body and its parts, to feel more. Proprioception opens up operative fields that allow us to constantly re-evaluate what is produced in the direct exploration of the senses.


From matter - bending with the body - warming with the hands

The drawings (on paper), the iron sheets or the paraffin, become a second body, a mediator in the experience. The relationship with performance, with choreography - a kind of dramaturgy of the body - where the action, or actions, become the representation itself, is not strange. As with Trisha Brown, the action becomes its own representation. Extrapolating from the drawings made with her feet, Trisha Brown shows us that she could use her whole body to portray herself and let it show. It is this body that Inês Leal seems to be referring to to understand the conditionality between the objects, images, or drawings and the actions that produced them. Particularly the actions that involved some effort to make them, as in the Steel series. But also other actions that demand a sweeter and more delicate way from the body, as in the series, Incorporeal (iron and paraffin), whose objects need heat (from the hands) and touch to acquire form.


Of form - limits and the ability to expand

The body lends matter a physical geography, a design, a limit. From here, everything is left open. And this possibility multiplies the meanings of events. A generative condition between action and matter that guarantees its own possibility, as a (final) form or as a possibility for configuring things. Some of the drawings explore the possibility of expanding their perception and recording of movement. Others attempt to record movement in action, reminiscent of Morgan O'Hara's Live Transmission: performative drawing or Juliet McDonald's drawings around the body. Né Barros somehow synthesizes this dynamic, between the idea of limits and the capacity for expansion, in expression - a form that forms and is formed - in her book Materiality of Dance (2010), and which the gesture synthesises.

From gesture - drawing in real-time

Gesture is an expressive disposition of the body's action that reveals the relationship between the action represented and the action that arises from the same act of representation.  The action that makes the thing done, is in the language of Gomez Molina. The gesture is inserted within an action, articulates elements that may be related, and makes visible a means of registering the body's movements. The gesture is the presentation of a mediality, making a medium visible. This is what seems to be sought in the series of drawings - Translation of ‘Transverse Orientation, (15) 25 x 41 cm, Graphite on paper and Centre 01 (3) 53 x 34 cm, Graphite on paper - which speculate on the limits of representing form. They explore the movement of the body. What is under observation materialises on paper as the paper receives the material of the image. In these drawings, the gestural elements constitute a temporal sequence, of what happens, when it happens.


From time - performative drawing

All drawing will become drawing, that's the contingency of doing it (Manuel Zimbro, 2010)

But drawings can also be an extension of what is being done. They can take on a certain documentary intent. Like a ghostly image of (your) body, (your) movements, and your actions - face to face - in the drawings, relating the (real) drawing in real time. The series - Newspaper as a record of time, support of time, recorded by the volume of time (29.7x42 cm print on paper) - bears witness to this extension. A flow of black matter occupies the space delimited by each sheet of paper, constructing a paradoxically empty image. But these drawings, these images are nevertheless composed of traces of what remains - of movement and actions - of the time lived. There is a certain idea in these records of the continuous filling of a space, visible as a photo performance, in static impressions.